Trans contam como quebraram preconceitos em Salvador
Até pouco tempo era raro ouvir falar em transexuais aceitas pelo mercado de trabalho que não fosse em salões de beleza ou realizando atividades artísticas. A transformação dessa realidade começou a chamar atenção em Salvador após Paulette Furacão assumir a coordenação do Núcleo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) da Superintendência de Apoio e Defesa aos Direitos Humanos da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH).
Primeira transexual a ocupar um cargo público na esfera estadual, Paulette Furacão foi chamariz para a abertura de novos postos de trabalho em Salvador, como foi o caso de Mahyele, 18 anos, que na última quarta-feira 8, começa a trabalhar como auxiliar administrativa em uma universidade particular.
Moradora do bairro de Pernambués, com ensino médio completo, ela não esconde a emoção trazida pelo desafio em seu primeiro emprego. “Estou ansiosa para iniciar, pois sei que vou descobrir e apreender muitas coisas importantes para nós. Vou dar o máximo de mim para esse novo caminho em minha vida”, afirmou a jovem com um sorriso no rosto.
Sobre o preconceito, ela revela que, apesar de existir em qualquer lugar e não ser fácil, ela segue sem medo. “Tenho apoio da minha família e isso é fundamental. Confesso que não foi fácil conviver com todo preconceito no meu bairro, mas hoje as cosias mudaram e ainda vão mudar muito.”
Outra moradora de Pernambués que também conquistou seu espaço no mercado de trabalho foi a transexual Tuka Peres. Nascida e crida no bairro, aos 29 anos ela ocupa o posto de assessora no gabinete de vereador Suica, onde é a responsável por cuidar de questões ligadas à causa LGBT, além de representá-lo em eventos na cidade.
Diante dessa conquista, Tuka conta que, no inicio, foi complicado. “Tive um pequeno impasse para usar o meu nome social no crachá”, explica. Mas passo a passo, tudo foi superado e hoje ela comemora sua posição. “Foi uma conquista da minha independência. Hoje sou referência de sucesso na minha família.”
Mesmo com essas conquistas, todas são unânimes em afirmar que o preconceito e a violência ainda são gritantes na sociedade, principalmente a violência moral, como conta Tuka: “já fui posta pra fora de um banheiro feminino e isso é algo difícil de esquecer. Foi humilhante e constrangedor”, revelou.
Para Paulette Furacão, apesar de a luta ser dura e longa, não se pode deixar de buscar novos caminhos e oportunidade para romper com a barreira do preconceito. “Há um ano me senti desafiada e com medo quando recebi o convite para cuidar do núcleo, e hoje estamos aqui celebramos o resultado desse trabalho com o lançamento da programação das ações de combate à homofobia em Salvador e no interior, com mais de 80 atividades de conscientização e combate a todas as formas de violência contra a comunidade LGBT.”