Trans de Buenos Aires voltam às aulas em escola especializada

As travestis e transexuais argentinas voltaram às aulas na Escola Popular Mocha Cellis, inaugurada este ano em Buenos Aires. Localizada num antigo prédio no bairro de Chacarita, 35 estudantes tentam construir uma história longe da prostituição.

“Um dos nossos principais objetivos é ajudar nossas alunas a ter uma educação e conseguir um trabalho digno. A prostituição não é a única alternativa para as travestis”, explicou a professora Claudia Victoria Puccini, em entrevista ao jornal carioca Extra.

A professora, que ajudou a redigir o projeto da Lei de Identidade de Gênero, aprovada em maio, declarou que apesar dos avanços nos direitos LGBT na Argentina, ainda há muitos desafios pela frente. “Imagine que até hoje não se fala em educação sexual em nossas escolas”.

Aprovada com amplo apoio, a lei estabelece que qualquer pessoa poderá solicitar a retificação de seu sexo no registro civil, incluindo o nome de batismo e a foto de identidade. Algumas alunas da Moche Celis ainda não trocaram seus documentos, mas pretendem fazê-lo em breve.

Já a escola, ainda única do país, foi implementada para as travestis poderem estudar sem se sentirem discriminadas. Na Argentina, a expectativa de vida dos travestis é de apenas 35 anos. Segundo pesquisas recentes, somente 14% deles terminam a escola primária, num país que tem 98% de sua população alfabetizada. Na Mocha Celis, a proposta de educação adotada é a do pedagogo brasileiro Paulo Freire. São oferecidas aulas de literatura, cooperativismo, matemática, noções digitais, memória e reconhecimento trans, entre outras matérias.

“Estou superfeliz na escola. Na província de Salta, onde nasci, me sentia marginalizada”, conta a estudante Virginia Silveira, de 28 anos. O curso principal dura três anos, e o diploma concedido pela escola conta com o reconhecimento do Ministério da Educação. Parte da militância argentina aprova o projeto, outra parcela considera a escola discriminatória.