Dilma: “Discurso de Levy Fidelix não representa a grandeza e a diversidade do povo brasileiro”
O Globo
A presidente Dilma Rousseff encontrou-se, na noite desta segunda-feira, com cerca de vinte lideranças dos movimentos LGBT brasileiros. A reunião, de cerca de 30 minutos, ocorreu próxima do comício agendado pelo PT em Campo Limpo, na periferia de São Paulo. Às lideranças, Dilma afirmou que o discurso homofóbico do candidato Levy Fidelix (PRTB) no debate da TV Record, domingo à noite, “não representa a grandeza e a diversidade do povo brasileiro”. Após um silêncio inicial, Dilma e os outros candidatos reagiram às afirmações de Fidelix.
A presidente ouviu três interlocutores, entre eles o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno Fonseca, que pediu empenho pessoal na aprovação da lei que criminaliza a homofobia. Fonseca pediu ainda que haja mais diálogo com os movimentos de defesa dos homossexuais em um eventual segundo mandato.
Eleonora Pereira, do grupo Mães Pela Igualdade, de Pernambuco, entregou a Dilma a bandeira de arco-íris, símbolo do movimento gay, que fora de seu filho, assassinado em um crime de ódio em 2010. Emocionada, Eleonora destacou que, se a lei anti-homofobia tivesse sido aprovada, Fidelix poderia ter saído preso do debate. Também tomou a palavra a travesti Simmy Larrat, que já participou da pasta que trata do tema na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência.
Segundo um dos articuladores do encontro, o coordenador de políticas LGBT da Prefeitura de São Paulo, Alessandro Melchior, os ativistas elogiaram a postura de Dilma em seu discurso pela criminalização da homofobia nos palanques, como o de Belo Horizonte há 15 dias, e na ONU.
Melchior disse ao GLOBO que a reunião estava pré-agendada na semana passada, como uma demanda dos movimentos, e não foi motivada pelo discurso de Fidelix, que ele considerou personagem menor na corrida presidencial. No entanto, Melchior admitiu que o discurso do candidato do PRTB “atiçou um pouco os grupos de ódio e causou desconforto na sociedade”. Durante todo o dia, pelas redes sociais, os defensores dos direitos homossexuais criticaram Fidelix e articularam atos de repúdio à fala do candidato.
‘SÓ FALO DE SEGUNDO TURNO DEPOIS DO VOTO’
Dilma defendeu, mais cedo nesta segunda-feira a criminalização da homofobia e a manutenção da união civil entre pessoas do mesmo sexo dentro do escopo que foi assegurado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Dilma, que participa de um comício na noite desta segunda-feira na periferia da cidade, evitou dizer se, em um eventual segundo turno, convidará o candidato Levy Fidelix (PRTB) a subir em seu palanque. Neste domingo, Fidelix proferiu um discurso anti homossexuais, dizendo que eles devem ser “tratados psicologicamente” e “bem longe”.
— O meu governo e eu, pessoalmente, sou contra a homofobia e acho que o Brasil atingiu um patamar de civilidade que nós, a sociedade brasileira e o governo, não podemos conviver com processos de discriminação que levem à violência. Acho que a homofobia tem de ser criminalizada — disse a presidente.
— No que se refere às relações estáveis entre pessoas do mesmo sexo, o Supremo Tribunal Federal foi claro e definitivo. Leis, neste país, e decisões do Supremo existem para serem cumpridas. E nós temos de cumprir esta que declarou que a união estável entre pessoas do mesmo sexo garante às pessoas todos os direitos civis, tais como herança, adoção e todos os demais — acrescentou.
Dilma, no entanto, não rejeitou um eventual pedido de apoio a Fidelix em um segundo turno:
— Meu palanque ainda não foi concluído. Estou no primeiro turno e não vou fazer aquela precipitação, que é achar que tudo já foi resolvido. Eu respeito o voto. Então, só falo em segundo turno depois do voto depositado na urna e computado, contadinho. Aí a gente discute o que vocês quiserem.
Mais tarde, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com lideranças do movimento LGBT, antes de um comício no Campo Limpo, Zona Sul da capital paulista. Eles pediram para Dilma explorar as posições de Levy Fidelix no programa de tevê do PT. A presidente disse que vai fazê-lo na reta final da campanha, mas não deu detalhes de como isso ocorrerá. A campanha petista acha que o assunto deixará também Marina Silva (PSB) numa posição desconfortável.
Entre os movimentos presentes ao comício de Dilma estiveram Arte Gay Jovem, Juventude Trans, Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL) e Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), Rede Afro LGBT, Unegro LGBT, Movimento Negro Unificado e Associação Brasileira de Gays Lésbica e Trans (ABGLT). Dos movimentos, a presidente recebeu um buquê de flores e uma bandeira das mãos de Eleonora Pereira, mãe do jovem homossexual Ricardo Pereira, assassinado por homofobia no Recife em 2010.
PRESIDENTE DEFENDE O BNDES
Pouco antes do comício, a presidente convocou a imprensa no hotel onde está hospedada em São Paulo para rebater as críticas dos candidatos de oposição à condução do BNDES pelo governo. Citando Marina e Aécio Neves (PSDB), Dilma disse considerar uma “temeridade” falar em redução do papel dos bancos públicos no país.
— Um (candidato) fala em reduzir o tamanho, outro fala em reduzir o papel dos bancos públicos — disse Dilma, que chamou de “factoide” a tese de que o BNDES atue para um grupo de empresas “eleitas”. — O BNDES não é um banco qualquer. É uma leviandade tratá-lo como tem sido tratado nesta campanha.
A presidente destacou que o BNDES é o terceiro maior banco público do mundo, atrás de China e Alemanha, com um montante de US$ 368 bilhões. Dilma citou levantamento do jornal “Valor”, no qual se aponta que, das mil maiores empresas dos país, 783 contam com financiamentos do banco. Ainda pelos cálculos da presidente, o banco do governo seria responsável pela geração e manutenção de 5,9 milhões de empregos no setor produtivo e nas áreas de infraestrutura.
Rouca, a presidente interrompeu seu pronunciamento para tomar água. Disse aos jornalistas que a rouquidão era uma “mistura de faringite, com laringite e muito esforço vocal”.