Defesa de casamento gay é contra princípios de Marina, diz pastor
Estadão
Luiz Gonzaga de Lima, de 57 anos, ainda não decidiu se vai à posse de Marina Silva (PSB) caso ela se eleja presidente do Brasil. Mas acha “bem capaz” que, na véspera, ela apareça no templo em Rio Branco ou lhe telefone. Amigo da presidenciável desde os anos 90, quando ela se converteu à fé evangélica, ele se tornou um de seus conselheiros, inclusive em momentos cruciais de sua carreira política, além de “advogar” para Marina nas causas mais controversas da campanha.
O pastor define sua ovelha como “inflexível, mas coerente” e crê que defender o casamento gay seria “totalmente, completamente” contra os princípios dela. “Ela tem como fundamento que casamento é entre um homem e uma mulher. Isso é bíblico e constitucional. Marina leva isso ao pé da letra”, resume o pastor, ao comentar a decisão de Marina de retirar a proposta inicialmente incluída em seu plano de governo, o que gerou críticas de homossexuais e defecções na campanha.
O Estado encontrou Gonzaga na noite de sexta-feira, após um culto no templo central da igreja em Rio Branco. Carismático e popular entre os fiéis, ele não tem filiação partidária e nunca disputou cargo público, mas sempre se engaja em campanhas. Atualmente, pede votos para um pastor da igreja se eleger deputado estadual e torce para um dos filhos, 1.º suplente de vereador na cidade, seja abençoado com a vaga.
Natural de Xapuri, Gonzaga conviveu com o seringueiro inspirador de Marina, Chico Mendes, que visitava a igreja do pai, também pastor. E acompanha a trajetória dela desde os anos 70, quando, “franzina e elétrica”, ela militava em movimentos sociais ligados à Igreja Católica no Acre. O vínculo mais estreito só veio quando, já senadora, ela ia aos cultos da Assembleia nas visitas a Rio Branco. De uns anos para cá, embora as viagens sejam menos frequentes, o elo não se perdeu. “Conversamos, oramos, às vezes ela participa do culto, prega aqui e se sente daqui”, relata o pastor, que não aceita o rótulo de guru.
Conselho. Em 2010, como conta o pastor, ela o procurou numa madrugada para dizer que não poderia tomar a decisão sobre a candidatura presidencial sem antes consultá-lo e ao seu pastor em Brasília. Ouviu que a campanha seria a oportunidade de ter seu nome reconhecido nacionalmente e que, no ano anterior ao centenário da Assembleia de Deus no País, seria um orgulho ter uma “assembleana” no páreo. “Aí ela ficou animada e nós oramos por ela naquela madrugada”, recorda. “Pastor, estou muito aliviada e indo em paz”, teria dito Marina, antes de se despedir. Naquela campanha, a ex-ministra o visitou ao menos mais duas vezes.
Na noite em que o aliado Tião Viana (PT) se elegeu governador, Marina pediu, segundo Gonzaga, que o templo central lhe fosse aberto para orações na madrugada. E, em agosto, no dia em que o PSB oficializou sua candidatura à Presidência, após a morte de Eduardo Campos (PSB) num acidente de avião, Marina pediu a Gonzaga “cobertura espiritual” para os embates e situações adversas que viriam.
O pastor não arrisca dizer se Marina chegará ao Planalto. Sem citar nomes, acha que políticos “são capazes de tudo” e que algo como uma grande calúnia poderia, sim, abater o voo dela. Elegendo-se, aposta que a ex-ministra não deverá ser uma evangélica no poder, sabendo separar política de religião, embora creia que boa parte do público das igrejas espere o oposto. “Ela não é uma onda. Construiu um alicerce sólido de 20 milhões de votos em 2010, agora multiplicado.”