Cotas raciais na UEM
Começou na Universidade Estadual de Maringá (UEM), domingo dia 16, o Vestibular de Inverno 2017. Mais um vestibular no qual as cotas raciais não são contempladas.
Em 2008, a UEM aprovou as cotas sociais para os vestibulares a partir de 2009, porém não aprovou as cotas raciais. À época, o presidente da Comissão Central do Vestibular Unificado da UEM disse que as cotas sociais atendiam às pessoas que tinham o desejo de estudar em uma instituição pública, mas que não tiveram as mesmas oportunidades que pessoas de “classe social mais alta”. O presidente ainda declarou que o entendimento era que a porcentagem reservada aos mais pobres também abrange pessoas negras. Outra declaração do presidente que nos deixa estupefatas é de que “várias universidades que adotaram esse sistema enfrentam problemas, por isso achamos mais inteligente fazer cotas que contemplassem todos que se encontram em situação realmente desigual, como é o caso das pessoas mais pobres”.
Obviamente que este professor não consegue fazer a leitura que, se a classe social mais pobre também abrange pessoas negras, sem oportunidade de inclusão, com o tempo, apenas as pessoas negras ocuparão a classe social mais pobre. Instituir cotas raciais é dar oportunidade igual para que negros e não negros, independente da classe social, tenham as mesmas oportunidades de acesso à educação superior e, consequentemente, a empregos melhor remunerados. É muito fácil deixar que a nossa branquitude nos coloque num patamar de superioridade a tal ponto que não consigamos enxergar as dificuldades do outro e os tratamentos diferenciados a que estamos sujeitos todos os dias.
Vivemos num país que tem 54% de sua população formada por pessoas negras, mas apenas 17% dessa população se encontra na parte mais alta da pirâmide social brasileira (dados do IBGE em 2014). Esse número não representa inclusão, não representa igualdade e muito menos equidade. E quem é contrário à implantação de cotas nas universidades, de certa maneira, defende que esta diferença continue existindo.
Cotas sociais é um grande avanço na luta pelo fim da desigualdade, só que ela não contempla outros marcadores sociais que precisam ser considerados também. Além disso, é de chamar a atenção como se manifesta a desigualdade dentro da UEM: O Cursinho Pré Vestibular oferecido pela universidade possui um sistema de cotas sociais e raciais para quem lá estuda, mas seus alunos e alunas têm de saber que ao fazer vestibular, na mesma instituição, mesmo que tenha estudado, através de cotas raciais, no Cursinho, na universidade, a oportunidade não será a mesma.
O Coletivo Yalodê-Badá, em parceria com Núcleo de Estudos Interdisciplinares AfroBrasileiros (NEIAB) da UEM e a página Por que a UEM não tem cotas? criou uma petição online para arrecadar assinaturas das pessoas favoráveis às cotas raciais na UEM. A petição está disponível no site Yalodê-Badá. Eu já assinei. Assine você também!
Nota da autora: a entrevista com o Presidente da Comissão de Vestibular Unificado da UEM, em 2009, Doherty Andrade, se encontra disponível aqui.