Católicos fazem pressão contra palestras de combate à LGBTfobia em Maringá

Pauline Almeida do Diário do Norte do Paraná

Retirado em 2015 do Plano Municipal de Educação, o tema “gênero” continua gerando embates nos bastidores, especialmente em redes sociais. O alvo da vez são palestras contra LGBTfobia promovidas em cerca de 20 colégios estaduais de Maringá e região pela Associação Maringaense de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (AMLGBT).

Fiéis católicos acusam que as palestras vêm sendo usadas para disseminar, entre os alunos, a “ideologia de gênero”, teoria pela qual o gênero – masculino e feminino – seria uma construção social. Articulados, eles pressionaram o vereador Sidnei Telles (PSD) a fazer um questionamento ao Núcleo Regional de Educação (NRE).

“Apesar de que eu considero que os grupos (religiosos) que estão radicalizando podem acabar fazendo um serviço contrário à visão religiosa de respeito mútuo. Eu vejo, às vezes, um ódio embutido em algumas manifestações; por outro lado, não vejo que o assunto está suficientemente transparente para que a gente possa avaliar que o que tem sido feito não é uma forma de inserção sociológica”, diz Telles, que é católico e tem forte atuação na igreja.

A presidente da AMLGBT, Margot Jung, refutou a acusação e declarou que as palestras têm o combate ao preconceito como cerne, trabalhando textos da Declaração dos Direitos Humanos e Constituição de 1988, por exemplo. A associação, segundo ela, geralmente é acionada quando ocorrem casos de LGBTfobia e só entra na escola se convidada formalmente pela direção. “A AMLGBT não vai para escola para dar aula de educação sexual, isso é papel da escola (…). O que nós falamos é sobre direito, cidadania, dignidade, igualdade, liberdade para as pessoas e amor”, defende.

Apesar da comoção de fiéis católicos contra o trabalho da associação, o assessor da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Maringá, padre Osnildo Luiz Gorla Júnior, não vê impedimento, desde que ele realmente se paute na dignidade humana. “A igreja se posiciona a favor daqueles que lutam e buscam uma sociedade que respeite as decisões individuais”, aponta. Ele ainda ressalta a contrariedade ao discurso de ódio. “Qualquer atitude que venha, mesmo de uma pessoa muita próxima da igreja, coordenador de alguma coisa, se o posicionamento fere aquilo que a própria fé que ele pratica propõe, está errado. Se ele está sendo agressivo, desrespeitando o outro pela escolha que ele fez, isso não é certo, não é cristão.”

Os polos do embate concordam sobre a importância da tolerância com o diferente, porém, quando a palavra gênero entra em cena, o cenário muda. “O ser humano tem sua origem em um projeto superior às escolhas pessoais, um Deus que criou a pessoa humana: homem e mulher e isso, ponto. Para além dessas doutrinas religiosas, existem várias antropológicas, sociológicas, a identidade não se dá a uma proposta cultural, como se dá a ideologia de gênero, é orientada pela própria natureza da pessoa”, argumenta padre Onildo. Para ele, se gênero estiver sendo debatido na escola, os pais devem ser acionados para que possam ter respeitada sua crença.

Já a presidente da AMLGBT acredita que há falta de informação sobre o que seria esse debate de gênero. “É o medo de que se discutindo gênero na escola você está induzindo as crianças a serem homossexuais, a serem transexuais, ninguém está induzindo. Isso é natural, a pessoa já nasce assim”, declara.
NRE

O Núcleo Regional de Educação informa que ainda não recebeu o questionamento do vereador Sidnei Telles. A coordenadora de Diversidade, Sueli Ibanes, declarou que desmistificar temas é fundamental quando se trabalha com a juventude, faixa em desenvolvimento intelectual.

“A formação é voltada para este lado de contra o preconceito e a favor do respeito humano, nada de ideologias ou pregação. (…) A gente só vence o preconceito com informação.”