Alunas da UEM sofrem ataques LGBTfóbicos nas redes sociais

Após ser mencionada na matéria “Seis cenas ‘peculiares’ que aconteceram em universidades públicas brasileiras”, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) enviou nota à Gazeta do Povo. A instituição afirma que a cena citada na reportagem, que mostrava uma cena íntima entre duas jovens em um seminário realizado na UEM, foi descontextualizada e usada para “generalizações”. Na visão da universidade, o caso gerou “violência desmedida contra as minorias” e serviu para defesa do fechamento da instituição. Veja a nota na integra:

A cena “As pedras no meu sapato”, desenvolvida no transcorrer da disciplina “Fundamentos da Direção I” do curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), retrata o surgimento do amor entre duas mulheres e as barreiras sociais pelas quais passam para concretizá-lo. Em seu desenvolvimento, celebra ícones da cultura lesbiana, ainda tão pouco discutida, mesmo no meio LGBT.

Em reconhecimento à importância das discussões promovidas por este trabalho, a organização do V SIES 2017 – Saberes trans/versais/currículos identitários e pluralidades de gênero convidou o grupo de discentes responsáveis pela cena (direção, elenco e sonoplastia) para a abertura do evento, que ocorreu no dia 26 de maio deste ano. Nesta ocasião, o trabalho foi fotografado e as imagens disponibilizadas no site da UEM.

Na noite de 08/06/2017, exatamente 41 dias após o evento, fomos surpreendidos nas redes sociais por postagens, comentários e compartilhamentos de textos e fotos da apresentação, totalmente descontextualizados. Material, este, utilizado com o objetivo de desqualificar a referida Instituição e tentar convencer nossa comunidade de que o fechamento da UEM é necessário. Tratam-se de generalizações que reflete a má fé de quem o faz.

As ações de ensino, pesquisa e extensão da Universidade Estadual de Maringá estão comprometidas e são fundamentais para a realização não só deste, como de outros trabalhos artísticos. A inadequada comunicação o ocorrido, somente após 41 dias do evento, tem a real intenção não de abrir espaços para a troca, reflexão e mutação, mas fazer imperar o ódio e o preconceito, aumentando o desequilíbrio e desarmonia social.

Grupos que agem desta forma pretendem dizer que se está gastando dinheiro público para ensinar “nojeiras”. Contrariamente ao que dizem alguns circuitos desinformados, o V SIES 2017 – Saberes trans/versais/currículos identitários e pluralidades de gênero – foi completamente sustentado pelas inscrições de pessoas interessadas no evento. Não houve gasto de dinheiro público para a sua realização.

É preciso reforçar que a função das universidades é garantir a expressão e convívio entre diversidades. A cena “As pedras no meu sapato” acaba por demonstrar sua pertinência, dada a discussão que tem gerado, e acompanha os objetivos da arte em nos fazer pensar além do estabelecido, ampliar nossa percepção de mundo e problematizar questões emergenciais do nosso tempo. Da mesma forma, funciona como um catalisador, para o qual se dirigem as perspectivas mais segregacionistas e preconceituosas.

Desde a escolha das fotos compartilhadas, passando pelos textos que as acompanham aos comentários e legendas inseridos, inclusive por este jornal, é patente a indisposição para o diálogo, assim como a violência desmedida contra as minorias. Isto nos faz concluir o quanto ainda temos de caminhar em direção a uma educação de qualidade, na qual mais do que conteúdos, estejam postos valores como o respeito e acolhimento às diferenças, bases sobre as quais as relações humanas qualitativas se constituem.