Vereador de Maringá critica identidade de gênero e ganha “vomitaço” no Facebook

O vereador Luciano Brito, do Solidariedade, ganhou um “vomitaço” no Facebook depois de fazer seguidas publicações sobre identidade de gênero. Brito se atrapalhou em algumas delas, falou sobre “ideologia de gênero” e chegou a citar Karl Marx, filósofo nascido em 1818.

Para Brito, debates em torno de igualdade de gênero e identidade de gênero se trata de “ideologia de gênero”, uma especie de “doutrinação”.

O resultado foi uma enxurrada de figurinhas (os “stickers”) com a ilustração do rosto vomitando nas publicações do vereador.

Depois de receber centenas de figurinhas “vomitando”, Brito bloqueou usuários e exclui os comentários.

A vice-presidente da AMLGBT, Margot Jung, e a professora da UEM, Fabiana Fabulosa, criticaram o vereador. Veja as publicações de Jung e Fabulosa abaixo.

Vereador de Maringá faz discurso de ódio e ganha “vomitaço” no Facebook

Margot Jung

No dia 18 de junho completou um ano que o Plano Municipal de Educação (PME) foi aprovado em Maringá, pela Câmara de Vereadores sem contemplar a inclusão das Políticas Educacionais de Gênero nas Escolas Municipais. Naquele momento, a Câmara estava repleta de pessoas que defendiam “Gênero Sim” e “Gênero Não”.

O maior defensor da retirada das questões de Gênero do PME foi o vereador Luciano Brito (SD) que, em seu perfil Facebook, diz que “família é a união entre um Homem e uma Mulher e que geram e educam os seus filhos, um relacionamento fundado no amor”. Nesta mesma publicação, Luciano classifica como “intolerantes” as pessoas que defendem as discussões de Gênero no âmbito das escolas.

Luciano Brito, contemplar discussões de Gênero nas escolas não tem relação com a utópica “destruição da família” alardeada por Vossa Senhoria! Contemplar discussões de Gênero ensinará às crianças que existem dezenas de modelos de famílias e que todas elas estão unidas pelos laços do amor. Amar não é sentimento exclusivo de pessoas heterossexuais ou de sua denominação religiosa. Falar sobre Gênero nas escolas preparará as crianças para a aceitação de todas as pessoas como elas são. Orientará as crianças no respeito às identidades de gênero, no respeito às mulheres, no respeito às diferentes orientações sexuais, às diferentes raças, etnias, aos diferentes modelos de família e também às diferentes religiosidades, porque eu não sei se você sabe, Luciano Brito, mas a Constituição Brasileira dá liberdade às pessoas de professarem a religião que elas quiserem.

A Constituição Brasileira também diz que o Brasil é uma Nação Laica e, em sendo laica, a fé não pode interferir nas leis nacionais. Meus direitos não podem estar atrelados à sua crença e ao seu julgamento!

Quando, nas redes sociais, leio conteúdos que reforçam a “Cultura do Estupro” e conteúdos que colocam as travestis assassinadas como responsáveis por suas próprias mortes, penso em você, Luciano. Lembro do seu semblante cínico na Câmara de Vereadores no ano passado, olhando com abjeção para nós, membros do movimento LGBT de Maringá, autojulgando-se superior. Penso no sentimento de pena que tenho por você e por tudo de nefasto que você representa. Acho até que sinto uma certa compaixão por sua mulher também, pois não vi você se posicionando a respeito das denúncias de violência machista praticada por dois vereadores colegas seus.

Você diz que nós não sabemos porque defendemos a “Ideologia de Gênero”. Defendemos, porque queremos ensinar nossas crianças que você não é modelo a ser seguido por ninguém. Porque queremos que os meninos respeitem as meninas e as tratem com igualdade e não como seres submissos ou inferiores.

Você nos chama de intolerantes, mas a “nossa intolerância” nunca matou ninguém! Já a intolerância daqueles que pensam como você matou, entre 2008 e 2014, no Brasil, mais de 600 pessoas LGBT! A intolerância dos seus iguais já matou vários pais e mães de santo, já destruiu imagens sacras e terreiros de candomblé. A intolerância desses já ateou fogo em índios e “suspeitos de serem índios”, em prostitutas e “suspeitas de serem prostitutas” e em dois amigos homossexuais, dentro do carro, semana passada na Bahia. Essa intolerância fez com que 33 homens estuprassem uma menina de 16 anos e com que um menino de 9 anos fosse abusado sexualmente, no Nordeste, por cinco adolescentes. Isso aconteceu no Brasil, só nos últimos 30 dias. Aqui, no nosso País, onde as Questões de Gênero não podem ser discutidas nas escolas!

Luciano Brito, sinceramente, você não tem medo de que este sangue derramado esteja também em suas mãos?

Professora da “puxão de orelha” em vereador que fez discurso de ódio

Fabiana Fabulosa

Luciano Brito, queria te trazer alguns esclarecimentos: Marx e Engels nunca defenderam o gênero. Para eles, o que importava era a igualdade de classes. Há, inclusive, histórias que narram Marx como um cara misógino (violento com mulheres). O que os dois filósofos criticavam era a estrutura familiar burguesa como mantenedora do capitalismo, da propriedade privada e da desigualdade. A definição de ideologia, inclusive, foi também postulada por eles e se relaciona aos diversos meios pelos quais as ideais da classe dominante se naturalizam aos olhos do povo, ou, de outra maneira, colocar as leis, as políticas, a moral e a religião para estabelecer uma inversão dos fatos, da realidade e de consciência (Ver a Ideologia Alemã de MARX e ENGELS).

Estranho é o Senhor se apropriar de um conceito – a ideologia – que foi definido por teóricos anti-capitalistas, para fundamentar isso que vocês chamam de ideologia de gênero. E tem mais, para fazer justiça à produção do conhecimento. Os primeiros a falar do caráter construcionista do gênero foram a antropóloga Margareth Mead e o antropológo Vitor Turner no final do Séc. XIX e início do Século XX. Eles observaram tribos e grupos humanos e constaram o que é óbvio: nada é dado geneticamente ou pelo nascimento; somos seres que se constroem em relações e em performances sociais. E posso lhe garantir: ser mulher no Brasil é bem diferente de ser mulher aborígene na Austrália; ser mulher branca é bem diferente de ser mulher negra; ser mulher cisgênero é socialmente privilegiado em função de ser mulher transgênera e sofrer com todo tipo de preconceito e violência.

Se o seu argumento é o biológico ou natural, como bióloga posso também te garantir, não existe somente as configurações XX (que caracterizam sexo biológico para fêmeas de uma espécie) e XY (para machos da mesma espécie). Há um mosaico de váriações cromossómicas (X0, XXX, XXXX, XXY, etc) que vão expressar genitálias, sexualidades, características físicas e biológicas ambíguas e essas pessoas, vítimas do acaso genético, só se definiram homens ou mulheres em suas vivências sexuais e em suas subjetividades. Em matéria de sexo, sexualidade e gênero, Luciano Brito, nem a natureza e muito menos a biologia possuem um consenso sobre isso.

A ideia de agenda de gênero é também uma distorção histórica das pautas conquistadas por mulheres na luta sobre seus direitos e pelo reconhecimento legítimo de não caracterizar suas potências em termos de uma fraqueza ou submissão biológica aos homens. Muitas mulheres morreram para chegarmos numa era onde as Nações Unidades fazem conferências que determinam a urgência das discussões de gênero para que se revertam as violências.

Você, Luciano Brito, votou contra políticas educacionais de gênero aqui em Maringá, encobertou um outro colega seu e também vereador acusado de violência doméstica e agressão física e, ainda, incita um discurso de ódio, de correção e de violência em relação às pessoas LGBTs. Não pensa nos efeitos desse discurso moral e não se preocupa com a morte ou com a agressão de seres humanos que se expressam de forma diferenciada. O seu discurso é fóbico (Homo, lesbo, transfóbico), é misógino (violento contra mulheres), é superficial e distorcido… Em suma: é nojento e anti-humano!

Como participar de um “vomitaço”

Participar do “vomitaço” é muito simples: é só entrar na postagem e, em vez de inserir um texto, clicar no ícone para enviar uma carinha e selecionar o pacote “Meep”. Daí, é só clicar na ilustração do rosto vomitando para enviá-lo. Caso você ainda não tenha o pacote de imagens, basta selecionar o ícone do carrinho de compras e baixar as ilustrações de graça e na hora.