Líder da Líbia diz que gays ameaçam a continuação da raça humana

A queda de Gaddafi pode ter livrado a Líbia de um dos mais pesados regimes ditatoriais da História, mas parece não ter alterado a sensibilidade política dos líderes do país. Em uma reunião de planejamento do Conselho de Direitos Humanos da ONU, realizada em Genebra, na Suíça, nesta segunda-feira, o representante libanês Mustafa Abdel Jalil afirmou que os gays ameaçam a continuação da raça humana.

A declaração do libanês é uma resposta ao primeiro painel do Conselho da ONU sobre discriminação e violência baseadas na orientação sexual, marcado para o dia 7 de março. Nos últimas semanas, tanto o secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon, quanto a presidente Hillary Clinton já expressaram opiniões favoráveis aos direitos iguais entre gays e héteros e criticaram países com postura discriminatória.

Mustafa Abdel Jalil declarou que os temas LGBT “afetam questões como a religião e a continuação da reprodução da raça humana”. O delegado líbio acrescentou que, se não fosse pela sua suspensão no ano passado, a Líbia teria se juntado a outros estados islâmicos na oposição histórica a uma resolução do conselho de junho de 2011, sobre as leis discriminatórias e a violência contra os LGBT.

Em resposta ao comentário da Líbia, a presidente do Conselho, Laura Dupuy Lasserre, afirmou que “o Conselho de Direitos Humanos existe para defender os direitos humanos e evitar a discriminação”.

Outro país a se opor à decisão da ONU foi o Paquistão, que declarou em nome da Organização de Cooperação Islâmica que seus 56 Estados membros da ONU não reconhecem as questões LGBT como direitos humanos fundamentais, e que eles não estão sob o mandato do Conselho de Direitos Humanos.

Diretor executivo da organização UN Watch e responsável por liderar uma campanha com 70 grupos de direitos humanos pela expulsão do ditador da Líbia, Hillel Neuer lamentou a postura do novo representante libanês.

“Ficamos felizes em ver o regime de Gaddafi finalmente suspenso no ano passado, mas esta não é a primavera árabe que a gente esperava. A declaração homofóbica do novo governo da Líbia, junto com o histórico do país de graves violações dos direitos humanos, destaca a necessidade de levar à sério essas questões e de assumir novos compromissos, a fim de apagar o registro escuro do seu antecessor”, afirmou Neuer.

“Os gays estão agora pagando o preço. O direito de estar livre da execução e de ataques violentos em lugares como o Irã está sendo corroído na ONU por um país que as democracias lutaram para libertar, e por um governo que nossos líderes ajudaram a instalar. É alarmante”, lamentou o diretor da organização.