José Cláudio, ex-prefeito de Maringá, sofreu ataques homofóbicos

Neste domingo (16) completa 9 anos da morte do ex-prefeito de Maringá, José Cláudio Pereira Neto.

No programa eleitoral do PTB em 2000, que foi ao ar no dia 24 de outubro à noite e seria reprisado no início da tarde do dia 25, Ratinho fez alusão ao fato de José Cláudio ser solteiro para compará-lo a Nero – “que era homossexual e botou fogo em Roma só para escrever uma poesia”, diz o apresentador.

Ratinho participava ativamente da campanha do candidato do PTB, Manoel Batista, o Dr. Batista, seu amigo pessoal, com presenças diária na TV.

A disputa no segundo turno entre Dr. Batista e José Cláudio (PT) continha um pacto de não-agressão, que foi rompido após o PTB anunciar que uma vitória do petista significaria que Maringá “seria invadida por sem-terra e camelôs”.

Zé Cláudio era solteiro e nunca se assumiu homossexual mas mesmo assim sofreu ataques homofobicos com interesses eleitorais, Cláudio respondeu nas urnas sendo o prefeito mais votado da história da cidade.

Ratinho faz acordo e desiste de recurso

O apresentador de televisão Carlos Roberto Massa, o Ratinho, chegou a um acordo com a família do ex-prefeito de Maringá, José Cláudio Pereira Neto, no processo por danos morais que tramitava na justiça desde 2000.

A ação, movida por Maria Aparecida Beraldo Pereira, mãe do ex-prefeito, é resultado da campanha eleitoral daquele ano, quando o apresentador fez insinuações sobre a sexualidade do então candidato e a ocorrência de um incêndio em sua empresa de colchões. Ratinho foi condenado pela 6ª Vara Cível da comarca e, em fevereiro de 2008, o TJ-PR reduziu o valor da indenização de R$ 302 mil para R$ 100 mil.

No mês passado, Ratinho desistiu de recurso ao STF, depois de ter feito um acordo com a mãe de José Cláudio. Com isso, o desembargador Mendonça de Anunciação, do Tribunal de Justiça, determinou a remessa dos autos 6ª Vara Cível.

José Cláudio Pereira Neto

José Cláudio Pereira Neto nasceu em Cambira (PR), no dia 15 de agosto de 1952. Formado em Direito pela UEM, iniciou sua vida política no movimento estudantil. Exerceu os cargos de presidente da UMES (União Maringaense dos Estudantes Secundaristas) e da UPES (União Paranaense do Estudantes Secundaristas). Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 1991.

O maior sonho do Zé Cláudio era ser prefeito de Maringá. Persistiu para atingir tal objetivo. Foi pré-candidato em 1992 e, nas disputas internas do partido, acabou preterido. Em 1996, o PT o escolheu para concorrer ao cargo. Com modestos 10.597 votos, foi o quinto colocado, no pleito que elegeu Jairo Gianoto. O grande momento do Zé Pereira chegou em 2000.

Reginaldo Dias – professor do Departamento de História da UEM e chefe de gabinete da Prefeitura no mandato de José Cláudio – diz em seu livro A Arte de Votar e Ser Votado: “Nas eleições municipais de 2000, que conduziram o petista José Cláudio Pereira Neto à chefia do Executivo maringaense, os eleitores optaram por um candidato pertencente a um partido de esquerda, visto como radical e sem grande lastro eleitoral no município”.

O favoritismo de José Cláudio não era apontado pelas pesquisas. Na frente dele, apareciam o candidato à reeleição Jairo Gianoto, Dr. Batista e Cida Borghetti. O caso Paolicchi – secretário de fazenda da administração Gianoto – veio à tona. O prefeito corrupto foi reprovado nas urnas pela população.

Naquele ano, Maringá ultrapassou a marca de 200.000 eleitores, e pela primeira vez tivemos segundo turno na disputa pela Prefeitura da Cidade Canção. José Cláudio e Dr. Batista chegaram lá. O petista foi o mais votado no primeiro turno, totalizando 40.663 votos (24.27%), seguido de Batista, com 39.281 votos (23.45%).

Agora já favorito nas pesquisas, José Cláudio sofreu ataques do adversário durante toda a campanha do segundo turno. Batista utilizou a “tática do medo” para tentar convencer a população de Maringá de que o PT na Prefeitura seria uma ameaça para a cidade. No programa eleitoral de Batista, atores vestidos de camelôs e militantes do MST invadiam o centro da cidade no caso de vitória do petista. A estratégia não surtiu efeito.

Os maringaenses clamavam por mudanças. O PT, principal partido de oposição ao governo FHC, crescia em todo o Brasil. Maringá acompanhou essa tendência e José Cláudio foi eleito no segundo turno com incríveis 107.320 votos (69.7%) – a maior votação proporcional de todos os candidatos do Brasil que disputaram o segundo turno em 2000.

No extinto blog Tribuna de Maringá, Marcelo Bulgarelli escreve sobre o breve mandato de José Cláudio: “Ele tenta arrumar a casa. Vai encontrar “esqueletos dentro do armário”, as dívidas astronômicas deixadas pelos governos passados. O ano de 2002 seria preocupante. Viriam cortes da União, a falta de recursos para o setor de saúde e o câncer que o vitimaria”.

Mesmo assim, durante a gestão de José Cláudio, a cidade não parou. Centros de educação e postos de saúde foram construídos ou amplamente reformados. O salário dos servidores públicos municipais nunca atrasou.

A doença foi fulminante. O primeiro prefeito de Maringá na atual década também entrou na história por ser o único a morrer durante o mandato. José Cláudio faleceu no dia 16 de setembro de 2003, aos 51 anos. Uma prodigiosa carreira política foi interrompida.

Com Maringá no peito, homenageamos o nosso saudoso ex-prefeito. Sem dúvida, o melhor desta década.

Com informações de Rodrigo C. (Maringá, Maringá), Angelo Rigon (Blog do Rigon) e José Mashio (Agência Folha)