Murilo Moscheta será padrinho da Parada LGBT de Maringá

O pesquisador e professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Murilo Moscheta, será o padrinho da quinta Parada LGBT de Maringá.

Moscheta concedeu uma entrevista ao Maringay na tarde desta sexta-feira. “O momento da Parada é um momento festivo, é um momento de celebração. Celebração daquilo que nos une, por meio inclusive das nossas diferenças; celebração da nossa capacidade de luta e de resistência que a história do Movimento LGBT e das pessoas LGBTs atesta; e é a celebração da nossa crença na nossa força de construir um mundo onde a vida das pessoas LGBTs se torne mais possível e mais plena de direitos”, disse.

Leia a íntegra da entrevista:

O que significa para você, ser padrinho da Parada LGBT de Maringá?

Eu gostaria de começar agradecendo a indicação para ser o padrinho da parada LGBT de Maringá desse ano e dizer que eu recebo essa indicação muito emocionado. Desde quando comecei a trabalhar como pesquisador e professor, eu escolhi a área LGBT como um campo de atuação e fiz da minha posição acadêmica um campo de luta política. Então, participar desta Parada, nesta condição de professor, pesquisador e gay, para mim significa muito, porque amarra, de modo muito pessoal e político, a direção é o sentido do trabalho que eu tenho tentado estabelecer na minha vida. É com o movimento social LGBT que eu tenho aprendido a lutar e a resistir na luta. Eu acho que nesse momento essas duas palavras: luta e resistência, são palavras muito importantes diante do cenário político nacional que está posto diante de nós.

Qual a sua avaliação sobre o cenário politico atual?

Nós precisamos, diante desse cenário político atual, organizar e fortalecer a nossa resistência. Essa organização pede de nós a superação inclusive de algumas divisões que a gente vive dentro do movimento. Propõe também aproximações mais intensas entre a Universidade e o Movimento Social; e o entendimento que são campos específicos e complementares de lutas. Não podemos esquecer que quando falamos de pessoas LGBTs estamos falando de uma diversidade de pessoas. Somos e queremos ser esta multiplicidade. Dessa forma, é interessante considerar outros marcadores que nos colocam às vezes em lugares diferentes. Não podemos esquecer que as pessoas trans, travestis, mulheres transexuais, homens transexuais ainda vivem situações de extrema violência onde a vida dessas pessoas está em risco. Não podemos esquecer que as questões relativas à transexualidade no Brasil ainda são profundamente medicalizadas dentro de um discurso que fala dessas possibilidades de vida como doença. E precisamos superar isso. Não podemos esquecer que pessoas LGBTs também são pessoas negras, não apenas brancas, são pessoas pobres, não apenas aquelas que podem encontrar um lugar social pela via do consumo, são pessoas que ocupam lugares sociais diferentes. São homens, são mulheres, e são pessoas que não se encontram nas limitadas categorias de classificação de gênero e sexualidade. tudo isso compõe uma diversidade entre nós que não queremos ver apagada, mas que também não deve servir para nos separar. Esta riqueza serve sim para agenciar as nossas forças para uma coalizão de resistência. É na nossa diferença que a gente pode encontrar, inclusive, força, fôlego e amplitude para as lutas que virão pela frente.

Com um legislativo e um executivo conservador, os direitos LGBT correm riscos?

Não há dúvidas de que a luta que a gente vai travar daqui pra frente é uma luta que se intensifica, não só porque ainda não alcançamos os direitos de plena cidadania que todos e todas almejamos, mas também porque as poucas conquistas das últimas décadas que tivemos se encontram ameaçadas no cenário mundial, e especificamente no nosso cenário político brasileiro de hoje, vemos o crescimento de forças bastante conservadoras e que se organizam por meio da construção do medo e do ódio na população. Para fazer isso eles também precisam construir um inimigo e nós, pessoas LGBTs sabemos que esse discurso elegeu-nos como o inimigo da vez. Então, vivemos em um mundo e em um cenário onde o discurso de ódio, o discurso fascista contra as pessoas LGBTs tem crescido e parece que vai se acirrar nos próximos anos. É nesse cenário que precisamos organizar a nossa luta.

Qual a importância da Parada LGBT?

Eu acho que a Parada é importante porque ela é um momento de luta pelos nossos direitos, ela é um ato político de produção de visibilidades, mas ela é também um ato de festa. Eu acredito que em um momento como esse, no qual estamos vivendo, a festa e a alegria são importantíssimas como dispositivo de luta e de resistência, pois o discurso fascista, o discurso conservador que se apresenta nesse momento é aquele também que quer produzir em nós a tristeza, o desânimo e a desesperança. Então é na face deste fascismo sombrio que nós vamos produzir alegria e fazer da alegria a nossa forma de luta.

Deixa sua mensagem final

O momento da Parada é um momento festivo, é um momento de celebração. Celebração daquilo que nos une, por meio inclusive das nossas diferenças; celebração da nossa capacidade de luta e de resistência que a história do Movimento LGBT e das pessoas LGBTs atesta; e é a celebração da nossa crença na nossa força de construir um mundo onde a vida das pessoas LGBTs se torne mais possível e mais plena de direitos.